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  • Foto do escritorIêda Lima

Zé Américo, a política seu destino, as letras sua vocação


Longe da pretensão de um ensaio sobre o legado de José Américo de Almeida, missão esta cumprida por escritores da estirpe de Elizabeth Marinheiro e outros que contribuíram com o livro José Américo: o escritor e homem público, Editora União, 1977, ouso resumir neste espaço a grandiosa obra desse paraibano, de Areia/PB, nascido em 10/01/1887, desarmada de julgamentos por suas escolhas político-ideológicas, nos anos 30, 40 e 70 do Século XX.

Filho de Inácio Augusto de Almeida e Josefa Leopoldina Leal de Almeida, foi para João Pessoa (à época Parahyba) aos 11 anos de idade, na companhia do tio, Pade Odilon Benvindo, quem assumiu sua tutela após falecimento do pai. Na sua formação básica passou pelo Seminário de João Pessoa (1901) e Liceu Paraibano (1903-1904). Em 1908 formou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Foi casado com Anna Alice Mello, com quem teve três filhos.

Sua trajetória profissional e política refletiu seu perfil altivo, líder nato e hábil no uso da palavra, oral ou escrita. Foi Promotor Público na comarca de Sousa, logo após se formar em Direito. Aos 24 anos de idade se tornou Procurador Geral do Estado. Conquistou os cargos de Secretário Geral e Secretário do Interior e Justiça, durante o governo de João Pessoa (1928-1930). Em 1930 foi eleito Deputado Federal, mas seu mandato não foi reconhecido, como retaliação do Governo Federal à Aliança Liberal, à qual Zé Américo aderiu. Com o golpe que derrubou o Presidente Washington Luís, foi nomeado por Getúlio Vargas como Interventor na Paraíba e Chefe do “Governo do Norte”. Ainda em 1930 tornou-se Ministro da Viação e Obras Públicas no governo de Getúlio Vargas (1930-34). Em 1935 foi eleito Senador da República, tendo renunciado ao cargo para ser Ministro do Tribunal de Contas da União (1935).

Candidato apoiado por Getúlio Vargas à Presidência da República, em 1937, foi traído por ele, com o autogolpe que cancelou as eleições e instaurou o Estado Novo. Foi ainda Senador da República, em 1946; Governador da Paraíba (1950-1953); Ministro da Viação e Obras Públicas (1953) da Ditadura Vargas; e Reitor da Universidade da Paraíba (1956-57).

Dentre as suas obras, como governador da Paraíba, destacam-se a 1ª Escola de Agronomia da Paraíba, em Areia (1934); a conclusão do Colégio Estadual da Prata, de Campina Grande (1948); e a Universidade da Paraíba (1955), depois federalizada.

Morreu aos 93 anos, em João Pessoa, em 10 de março de 1980. Em 10 de dezembro do mesmo ano o governo paraibano criou em sua homenagem a Fundação Casa de José Américo.

Das 18 obras publicadas, além dos artigos escritos para o Jornal A União e a revista Nova Era, destaca-se A Bagaceira (1928), que abriu caminho para o romance moderno, regionalista, como “O Quinze” de Raquel de Queiroz (1930); “O Menino de Engenho” (1932) de José Lins do Rego, “Caetés” (1933) de Graciliano Ramos e “Cacau” (1933) de Jorge Amado.

Sua carreira literária levou-o naturalmente a ocupar as Cadeiras nº 35 e 28 nas Academias Paraibana (22/06/1965) e Brasileira de Letras (28/06/1967), respectivamente.

Em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, José Américo de Almeida se desnuda para seus pares e repassa sua trajetória política e literária, de maneira singular, à luz de uma corajosa e ousada reflexão, fazendo dessa peça mais uma joia rara da literatura.

Com a palavra, Zé Américo: Foi minha estreia de escritor: “A Paraíba e Seus Problemas”... Eu tinha mais o que dizer e essa disponibilidade procurava outro meio de expressão. Era a substância de um romance: “A Bagaceira”... Depois tornei-me político, mas a Literatura fazia-me falta... Minhas orações iriam também dar livros: “A Palavra e o Tempo” e “Discursos do Seu Tempo”... Quando levantei a voz pela liberdade de expressão, na entrevista de 24 de fevereiro de 1945, aleguei que estava representando minha posição de escritor... Foi essa devoção que me deu a chave da imortalidade. A Política, como diria Napoleão, foi o destino; as Letras foram a vocação... Penetro nesta Casa como quem acha o seu lugar... A bagagem é nenhuma. Trago só o que a experiência não revogou.

 

Artigo publicado no jornal A União em 22 de Março de 2023



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