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Foto do escritorIêda Lima

Wellington Aguiar, o polemista desassombrado e revolto

Wellington Hermes Vasconcelos de Aguiar, nascido em 04 de maio de 1935, em João Pessoa, carregava um sentimento de revolta, por fazer parte “de uma geração perdida, em consequência de misérias e atropelos que a segunda grande guerra espalhou pelo mundo”. Um dos quatro filhos do primeiro casamento do seu pai, Hermes Ferreira de Aguiar, com D. Rosa Dalva Cabral Vasconcelos de Aguiar, teve um relacionamento difícil com a segunda esposa do pai, Lenira Castro Pinto, que chegava a proibir que seu genitor comprasse livros.


Essa relação conflituosa com a madrasta o levou a passar por vários colégios internos, na primeira etapa de sua formação escolar. Iniciou os estudos aos sete anos, com D. Enedina, diretora do Educandário Santa Lúcia, em Fortaleza. Depois, passou pelos colégios Santo Antônio, em Natal (RN); Pio X, em João Pessoa (PB); e Marista de Recife (PE). Wellington lembra que foi no Colégio São José, em Nazaré da Mata (PE), onde ele aprendeu a apreciar a letra e as artes, com incentivo do Padre João Mota, além da presença de grêmios literários, bibliotecas, júris históricos e um jornalzinho, onde começou a publicar seus primeiros artigos.


Quando adolescente, leu todas as obras de José Lins do Rego. Leu também Graciliano Ramos, Machado de Assis e Lima Barreto. Buscava a Biblioteca Pública, nas férias dos colégios internos, para matar sua sede de leitor. O autor de Menino de Engenho exerceu uma grande influência sobre ele, pois “escrevia certo, escrevia com a língua do povo”, dizia.


De volta a João Pessoa, cursou o Colegial no Liceu Paraibano, tendo sido Presidente da União Paraibana de Estudantes Secundários. A seguir, iniciou ainda na Paraíba o curso de Ciências Jurídicas e Sociais; mas logo se transferiu para o Rio de Janeiro, graduando-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, em 1960. De volta a João Pessoa, licenciou-se em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, em 1969.


Casado com Maria Rita Cabral de Aguiar, com quem teve as filhas Rosa Dalva e Jacqueline, Wellington se entregou à sua maior paixão, a leitura e suas crônicas e livros. Assim nasceram: O passageiro do dia (1977); Um radical republicano contra as oligarquias (1981); Uma cidade de quatro séculos – evolução e roteiro, em parceria com José Octávio de Arruda Mello (1989); Cidade de João Pessoa, a memória do tempo (1992); Deputado Miranda Freire -1967/1971(1997); Um oposicionista na trincheira (1997); A velha Paraíba nas páginas de jornais (1999); João Pessoa, o reformador (2005); e Dona Joaquina, As Normalistas e Outros Textos (2011). Confessou em entrevista que “O livro é que fica; se não fossem eles, não fiz nada na vida, não fui nada”. No período entre 1978-1993 ainda participou de seis antologias, fez a atualização ortográfica da 3ª edição de A Paraíba e seus problemas, de José Américo de Almeida, e foi um dos coordenadores da coletânea “Capítulos de história da Paraíba”.


Tomou posse na Cadeira nº 12 da Academia Paraibana de Letras (APL), em 03 de abril de 1981. Em seu discurso, contido nas páginas 7 a 107 do livro “Um radical republicano contra as oligarquias”, Wellington Aguiar resume sua trajetória em duas páginas e dedica quatro aos seus antecessores Luís da Silva Pinto e Wilson Lustosa Cabral; as demais são voltadas ao Patrono, João Coelho Gonçalves Lisboa, por quem demonstrou grande admiração e respeito. Foi Presidente da APL entre 1996 e 1998; membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, Cadeira nº 14, tendo sido seu vice-presidente, em 1995; Sócio do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica; e membro da Associação Paraibana de Imprensa.


Assim marcou sua trajetória o historiador e cronista paraibano, o menino que encontrara pedras no início caminho, mas retirou-as uma a uma, e formou a convicção de que “o intelectual, o escritor, o jornalista, o homem de espírito, têm perene compromisso com os problemas e angústias do seu tempo”, como revelou em seu discurso de posse.


 

Artigo publicado no jornal A União em 03 de Maio de 2023





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