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  • Foto do escritorIêda Lima

Violeta Formiga, a vida por uma palavra: Liberdade

Ela estaria completando 72 anos, próximo domingo 28 de maio, muito provavelmente no auge da sua carreira literária e colhendo os frutos da sua “rica, lírica e confessional poesia”, como a definiu Hildeberto Barbosa Filho, e de suas reflexões, “sempre profundas, por ser o que era: um ser de mente superior”, como testemunhou carinhosamente Evandro da Nóbrega.


Mas sua trajetória foi brutalmente interrompida aos 31 anos de idade, por ela ter rompido as amarras de um relacionamento abusivo, marcado por uma mente doentia, agressiva e possessiva de um homem capaz de ceifar a vida daquela que dizia que amava.

Paraibana de Pombal, nascida em 28 de maio de 1951, filha de Sr. José Formiga e D. Prima Gonçalves Formiga, Violeta chegou a João Pessoa em 1971, após cursar o Ensino Básico no Colégio Diocesano e na Escola Normal Arruda Câmara na sua cidade natal. Na capital, formou-se em Psicologia, pelo antigo Instituto Paraibano da Educação (hoje Unipê).


Casou-se em 1981 com o advogado Antônio Olímpio Rosado Maia, que fora seu namorado quando ela tinha apenas 15 anos de idade. Oriundo de tradicionais famílias nordestinas de Catolé do Rocha e Pombal, ele teria chantageado Violeta para que ela se casasse com ele, segundo depoimento da irmã dela, Djiam Formiga. Poucos meses depois ela propôs a separação; a partir daí, passou a equilibrar-se entre a liberdade da sua poesia e a clausura da perseguição e ameaças do marido, inconformado com a perda do poder sobre ela.


Em entrevista ao Correio das Artes, para uma edição comemorativa dos 70 anos de Violeta, em maio de 2021, o jornalista, escritor, editor e historiador Evando da Nóbrega, que foi seu namorado quando jovem, relatou que ela “não alimentava propriamente algo que se pudesse chamar de planos para uma carreira literária. Já exercia seus dotes poéticos quase sem se dar conta disso — ou sem prestar muita atenção ao que se passava, neste particular, porque a Poesia era algo bem natural nela. Era um estado d’alma, por assim dizer.”


Assim como fez Augusto dos Anjos, que também faleceu prematuramente aos 30 anos de idade, Violeta publicou apenas o livro Contra Cena, lançado em 1982, pela Ed. Macunaíma. Antes dessa obra, ela já publicava seus poemas no suplemento Correio das Artes, do jornal A União, desde 1975, interrompendo sua colaboração somente com sua trágica morte, em 28 de agosto de 1982. Em 1983, seus poemas inéditos foram publicados no livro Sensações.

Sobre a obra de Violeta, a escritora, crítica literária e professora de Teoria Literária na Universidade Federal da Paraíba, Neide Medeiros escreveu: “Na leitura que fizemos dos poemas que constam nos livros Contra Cena e Sensações, sentimos como tônicas constantes o desejo de liberdade, a preocupação com o deslizar do tempo e a busca pela palavra precisa”. Já Evandro Nóbrega disse que “ela primava pelos poemas curtos, pelos versos rápidos, às vezes até desconcertantes; parecia abominar as criações longas; e poemas sesquipedais, nem pensar!” O crítico literário Hildeberto Barbosa analisou que a obra de Violeta ainda estava em progresso e faltara tempo de maturação para se realizar melhor; que “sensibilidade ela tinha, mas lhe faltavam ainda os instrumentos expressivos de mais eficácia estética”.


Incontáveis foram as homenagens póstumas prestadas a essa poeta paraibana, seja emprestando-lhe o nome para designação de ruas, escolas e prêmios ou criando diferentes formas de tributo como: os livros Violeta Formiga: 25 Anos de Encantamento (2007) e Violeta Formiga Vive! 30 anos de Encantamento (2012), de autoria de Neide Medeiros; a inclusão do nome dessa poeta na galeria das patronas da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba, por proposição da escritora Neide Medeiros, que ocupa a Cadeira nº 40; a inserção do seu perfil, assinado pelo jornalista Walter Galvão, na coletânea Paraíba na Literatura I (2020), de iniciativa da Empresa Paraibana de Comunicação; e tantas outras reverências citadas na Edição Especial do Correio das Artes, em maio de 2021, sob o título Violeta Formiga, Presente.


Ao escrever o poema Inteira, Violeta Formiga parecia ter consciência da sua curta missão neste mundo: Minha vida/por uma única/palavra:/Liberdade.


 

Artigo publicado no jornal A União em 17 de Maio de 2023



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