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Foto do escritorIêda Lima

Vanildo Brito, o poeta do Ser

Vanildo Brito
Reprodução: Paraíba na Literatura

Paraibano de Monteiro, nascido em 09/05/1937, o advogado, defensor público, professor e poeta Vanildo Brito migrou para João Pessoa, aos cinco anos de idade, com seus pais Anfrísio Ribeiro de Brito e Irene de Lyra Brito. Após cursar o Ensino Básico no Colégio Pio X, entrou para o curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em 1955. Com a primeira esposa, Severina Pereira, teve a filha Eda Carla. Em 1968, casou com sua musa Inalda Brito, de cuja união nasceram os filhos Adriano, Alexano, Vanilda e Alana. Netos são nove.


Vanildo trabalhou no IAPTC (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Estivadores e Transportes de Cargas); atuou como advogado da Justiça Militar; foi Defensor Público e Professor de Filosofia no Departamento de Filosofia e História do CCHLA, da UFPB, de 1967 até a sua aposentadoria. Tinha paixão por idiomas, em especial a língua latina e o alemão.


Foi Diretor do suplemento cultural do jornal A União, “A União nas Letras e das Artes”, que depois passou a “Correio das Artes”, no período de agosto de 1959 a maio de 1960, destacando-se como seu editor. Foi em 1959, aos 22 anos de idade, que ele despontou como o idealizador e organizador do movimento Geração 59, que ele comparou a uma “frente ampla”, inspirado no modernismo, buscando maior visibilidade para a produção literária paraibana, o que resultou na publicação Antologia Geração 59, com a participação de quatorze poetas.


Essa nova visão literária conquistou a simpatia e a adesão de outros artistas e intelectuais, da cidade de João Pessoa, dentre eles os cineastas Vladimir Carvalho e Ipojuca Pontes; os escritores Maria José Limeira, Hildeberto Barbosa Filho e Ângela Bezerra de Castro; os artistas plásticos Raul Córdula Filho, Ivan Freitas e Chico Pereira; e o músico Pedro Santos.


Começou a escrever suas poesias por volta de 1955. Publicou os primeiros poemas em 1956, nos jornais literários de João Pessoa (PB) e Recife (PE). De uma dezena de obras publicadas por Vanildo Brito, o escritor e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho identificou dois momentos na sua trajetória literária. O primeiro, “de um lirismo construído essencialmente a partir das tensões entre o clássico e o moderno”, com Memorial Poético (1986); A Construção dos Mitos (1960, republicado em 1982); Sinal das Horas e Cantigas de Amor para Inalda (1988, dois livros num só); e A sagração do emblema (1998). O segundo, com a obra O livro das paisagens (1998), de “uma lírica mais plástica, mais musical e mais variada”.


O poeta Sérgio de Castro Pinto considera que Vanildo criou "uma poesia de feitio clássico, apolíneo, imune a modismos, pois à lírica de “Selecta Carmina”, as vanguardas nada tinham a acrescentar", ainda que encharcado de questionamentos metafísicos, como filósofo.


Ressentido pelo parco reconhecimento ao poeta que era, como confessou ao amigo Hildeberto, teve seu nome lembrado na Biblioteca do Departamento de Filosofia e História do CCHLA da UFPB, ali onde lecionou por anos, sob a chefia de Damião Ramos Cavalcanti. Seu companheiro de boemia, escritor, jornalista, filósofo e crítico de cinema Willis Leal, possivelmente também testemunhou as inquietudes e reflexões nitzcherianas de Vanildo.


Sua filha Vanilda o define como “um homem à frente do seu tempo, com uma curiosidade inquieta, amante da natureza, de hábitos simples, culto, obstinado, sonhador, caseiro, muito ligado à família, carinhoso, pouco sociável, porém solícito”.


Quando jovem, gostava de ler poetas portugueses como Guedes Monteiro e Antero de Quental, na biblioteca do pai. Leu Augusto dos Anjos aos 22 anos de idade. Com o tempo, desenvolveu a paixão por traduzir poemas latinos, como o fez com os versos 1144 a 1174, do livro II, do De Rerum Natura (Da Natureza das Coisas), do poeta latino Titus Lucretius Carus; e se dedicou ao estudo das teses do controvertido escritor e professor existencialista alemão Martin Heidegger (1889-1976), considerado por ele o maior filósofo do Século XX.


Os últimos versos de Eis o mar com seus símbolos, seus peixes: “E eis-me ao lado das pedras e do mar/Híbrido ser de angústia e de esperança/Construindo da própria solidão/Esta palavra em que farei morada”, revelam a bipolaridade lírica desse poeta, identificada por Hildeberto Barbosa Filho: a angústia e a esperança do Ser, que também foi enriquecida do flerte filosófico com a Natureza, até um ano antes de 22/07/2008, quando se foi para o eterno.


 

Artigo publicado no jornal A União em 20 de Setembro de 2023



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