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  • Foto do escritorIêda Lima

Súplica de uma mulher

Uma força estranha atraiu-me, dias antes deste 8 de março, a pegar papel em branco e dar-lhe sentido com palavras que pudessem traduzir o significado de ser mulher, tendo experimentado a última metade do Século 20 e as primeiras décadas do Século 21.


Vivenciei um grandioso salto nos meios de comunicações e tecnologia da informação, com a chegada da televisão, da internet, das redes sociais e da inteligência artificial.


Foi também um período de transição entre duas mulheres, nas relações sociais.


Uma, das relações de poder, em casa, no trabalho e nos espaços de expressão cultural, onde eles dominavam tudo e elas se limitavam a procriar, servir, contentar-se com cargos e salários irrisórios e sufocar seu potencial criativo, por saber ser sonho impossível.


Outra, onde ela decidiu acompanhar seu medo e encheu-se de coragem e determinação, para saltar o abismo da intolerância, da relação abusiva e da exclusão, usando inteligentemente todas as brechas possíveis para libertar-se das correntes. Que provou ser capaz de ser mãe e companheira, enquanto brilhava em empresas privadas como assalariada, como gestora em cargos públicos ou conduzindo projetos no 3º setor.


Tudo isto à custa de terceiro turno, em casa, ou fazendo malabarismo para assegurar presença nas reuniões e nas atividades extracurriculares de seus filhos, buscando mantê-los ativos e estimulá-los a desenvolver sua criatividade e evoluir espiritualmente.


Uma, que precisava combinar hora para falar com seu filho, por telefone fixo. Outra, que acompanha “online” os passos dele e pode vê-lo, ainda que a quilômetros de distância.


Uma, que se comunicava por cartas com familiares e amigos. Outra, que precisa cuidar para estar presente, a despeito da cômoda e efêmera mensagem eletrônica.


Uma, que usou programação analógica no seu TCC, escreveu a mão sua dissertação de mestrado, para só depois datilografar, ou perdeu um capítulo inteiro da sua tese de doutorado, por não contar com armazenamento de dados em nuvem.


Outra, que escreve e corrige seus textos onde estiver, simplesmente acessando seu drive privado, cuja capacidade depende apenas de aceitar pagar um pouco mais.


Uma, que testemunhou uma ditadura militar. Outra, que viu renascer a Democracia, que segue ainda frágil e ameaçada, mas ainda é o melhor sistema de governo, apesar das falhas.


Essas mudanças exigiram muita energia, coragem para pedir ajuda e certa ousadia.


Que mais mulheres possam ocupar mais espaços e fazer a diferença, para neutralizar a recorrente presença do pior do ser humano, expressa na violência doméstica, nas relações abusivas, na fome que mata seus filhos, na intolerância racial, religiosa e de gênero, no abuso sexual, nas guerras e nos genocídios, com sua sensibilidade, perspicácia e habilidade feminina!


Meu coração de mulher que transitou por dois séculos suplica por isto!



 


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