Neste quatorze de dezembro comemora-se dezesseis anos da morte do paraibano de Itabaiana, Severino Dias de Oliveira, o mais completo músico dos últimos tempos. Capaz de transitar com maestria entre o popular e o clássico, Sivuca marcou sua passagem aqui na terra com o que de melhor ele sabia fazer: extrair o máximo do seu potencial de multiinstrumentalista, compositor, arranjador, maestro e cantor, fiel às origens nordestinas.
Autodidata, formou seu perfil multifacetado graças a uma resiliente busca por aperfeiçoamento, tanto na prática dos shows iniciais pelo interior da Paraíba, como pelas trocas com artistas de diversos gêneros musicais e pelo estudo de teoria musical com músicos de orquestras de rádios, em Recife; evoluindo para harmonia, orquestração e contraponto com o maestro e compositor fluminense César Guerra Peixe, além de cursos feitos no exterior.
O início da sua carreira artística de maior visibilidade se deu em Recife, ao ser contratado pela Rádio Jornal do Comércio, com apenas quinze anos. Aos vinte gravou seu primeiro sucesso radiofônico, “Adeus Maria Fulô”, em parceria com Humberto Teixeira. Cinco anos depois, Sivuca foi contratado pela Rádio e TV Tupi, alternando entre Rio e São Paulo.
Na sua luta por mais espaço no mercado musical, após uma temporada de shows pela Europa, ao lado de Valdir Azevedo e outros, decidiu fixar-se em Lisboa (um ano) e em Paris (quatro anos). Em 1964 mudou-se para Nova Iorque, onde morou por treze anos, tendo sido diretor musical, arranjador e instrumentista dos shows da cantora africana Miriam Makeba, em turnês internacinais durante quatro anos e meio, gravando três discos; diretor musical e realizador de shows da dupla de jazz Oscar Brown Junior e sua esposa, Jean Pace Brown, que ficou eternizado no LP “Joy”; compositor de trilhas para curta-metragens para a TV Educativa americana; e parceiro de turnês da cantora americana Bette Midler, do compositor e cantor Paul Simon e do ator e cantor Harry Belafonte. Ali, ele lançou um espetáculo de música brasileira no Village Gate, que deu origem ao LP “Live at the Village Gate”. Nesta fase, Sivuca globalizou a música popular brasileira e incorporou em várias de suas obras a beleza do jazz e outros ritmos e sons da cultura europeia, despertando o interesse de gravadoras no Brasil.
Em 1976, Sivuca conheceu aquela que viria a ser sua parceira no amor e na música, a compositora e cantora paraibana de Sousa, Glória Gadelha, que ainda reside em Itabaiana/Pb. Dessa união nasceram a filha Flávia, três netos e grande parte das suas músicas, destacando-se “Feira de Mangaio”, “Como é grande e bonita a Natureza” e “Energia”. Outros parceiros foram Chico Buarque, Paulinho Tapajós, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc e Renato Aragão.
Aqui começou a segunda etapa da carreira artística de Sivuca. Em entrevista ao jornalista, músico e poeta paraibano, Antonio Carlos da Fonseca Barbosa, Sivuca disse ter feito como sacerdócio a divulgação da música popular brasileira no exterior e, ao voltar para o Brasil, sentiu que havia terreno fértil para divulgá-la internamente. Assim o fez. De sua rica discografia ao longo da segunda metade do século XX, Sivuca lançou 1 LP e oito 78 rpms, na década de 50; 4 LPs na década de 60; 7 LPs na década de 70; 13 LPs na década de 80; e 2 CDs e 1 LP na década de 90. Na primeira década do Século XXI, ele produziu 4 CDs e 1 DVD.
Ouvidos atentos e educados musicalmente irão certamente detectar a evolução da qualidade técnica de sua produção musical, tanto na leveza e destreza com que interagia com seu inseparável acordeon como pela capacidade de mesclar o popular com o clássico, culminando com seu “Sivuca Sinfônico”, gravado em 2006, com a Orquestra Sinfônica de Recife. Nascido em Itabaiana/Pb em 26 de maio de 1930, Sivuca faleceu em 14 de dezembro de 2006, em João Pessoa, deixando sua indelével marca de “poeta do som”.
Artigo publicado no jornal A União em 14 de Dezembro de 2022
Muito interessante, eu sempre ouvi este nome nas aulas de história e até em menções honrosas na tv, mas não imaginava o quão talentoso o mestre Sivuca era. Parabéns pela matéria