Ler "Sertão de Bodocongó", de Efigênio Moura é adentrar uma poética aberta armorial, marcada pelo realismo fantástico de raízes profundamente nordestinas.
São vários os momentos da caminhada de João no reino do encantado, onde o autor entrega matéria valiosa para Xilogravuras ou Pinturas armoriais. Eis alguns deles:
"Mandacarus são almas penadas cás mãos arribadas pro céu, com o bucho chei d'água, pedindo clemência."p.90
" A alma deu um grito danado que alevantou as têia do quartin que eu morava na Rua da Matança. E saiu espantando bicho, derrubano chapéu de home, assanhando e enlinhando cabelo de espiga de mí." pp. 116/117
" À frente de João surge uma cratera, João despenca dentro dela e cai...vai caindo e tenta se agarrar em alguma coisa. João não consegue, João cai em um terreno duro e escorregadio, com fissuras enlameadas. Ao tentar se levantar, sente que o espaço é pouco, já que há uma frondosa Barriguda ocupando todo o espaço, o tronco largo e com um imenso ninho de cupim de barro e de boca larga. Da árvore despencam bonecos de barro em formato de homens e mulheres que, ao se soltarem dos galhos, gritam e se espatifam no chão, bem ao pé de João, virando pó. Vez em quando alguém é trazido para junto da árvore e é atirado dentro do cupinzeiro, sendo sugado para a boca da árvore que os mastiga, engole e os cospe para a copa, depois os devolve para a ponta dos galhos onde viram barro e caem."
Essa arte de ilustrar os conflitos internos da alma de João, em busca do SER, ainda vai dar pano pra manga! Parabéns confrade @efigeniomoura!
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