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Foto do escritorIêda Lima

Paulo Pontes, um cometa do teatro




Homem de perfil segurando o queixo
Reprodução: Antologia do Teatro, Editora A União.

Há exatos 47 anos, o Brasil perdia o irreverente dramaturgo paraibano, Vicente de Paula Pontes Vieira, que escolhera trazer aos palcos a representação da vida como ela é, buscando reaproximar o teatro do povo e usá-lo como instrumento de conscientização política.


Campinense de nascimento, em 08/11/1940, Paulo Pontes é patrono da Cadeira nº 34 da Academia de Letras de Campina Grande, a qual tenho muito orgulho e honra de ocupar.


Tendo trabalhado como radialista, redator, produtor e locutor do programa Rodízio, na Rádio Tabajara, além de colaborar com o jornal "A União", em João Pessoa, Paulo Pontes sonhava em ser ator. Contudo, um convite recebido, em 1962, feito pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, conhecido como Vianninha, para participar do Centro de Cultura Popular da UNE, no Rio de Janeiro, veio despertar seu potencial de autor de teatro.


Desde então, a vida de Paulo Pontes foi marcada por uma espiral ascendente, chegando ao seu apogeu criativo em 1971, seguindo seu veio de produtor de comédia de costumes, que já se manifestara em “Rodízio” ou na peça PARAÍ-BÊ-A-BÁ, que lotou o Teatro Santa Roza, numa aposta dele de que “o público não vem ao teatro porque o teatro não está falando de coisas que ele conhece ou pelas quais se interessa”.


Com o advento da televisão, não tardou para que Paulo e Vianninha assumissem o protagonismo das comédias de costumes, explorando inteligentemente brechas na linha editorial desse meio de comunicação em massa, onde predominam interesses das elites.


Deu-se início a BIBI - SÉRIE ESPECIAL, na TV Tupi, em 1968. Paulo Pontes escreveu ainda o texto do show "Brasileiro, profissão esperança", para direção de Bibi Ferreira e interpretação de Paulo Gracindo e Clara Nunes. Desse momento destacaram-se também as obras “Sem saída”, “O justiceiro”, “Um homem chamado 320”, “A ferro e fogo”, “De repente uma visita”, “A testemunha”, “A vida por um fio” e “Uma noite de terror”.


Como resultado da sua inquietude intelectual e grandiosa capacidade produtiva, Paulo Pontes escreveu em paralelo para o Teatro. Assim nasceram: “Um edifício chamado 200”, que lhe valeu o prêmio de Autor Revelação em São Paulo, em 1972; “Check-Up”, que ganhou o prêmio Governador do Estado da Guanabara, em 1972; “Dr. Fausto da Silva”; “Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, de 1973”; e “Gota D'água”, de 1975, inspirada em Medeia e montada em parceria com Chico Buarque de Holanda, que lhes rendeu o Prêmio Molière.


Foram ainda de autoria de Paulo Pontes os textos do Programa "A Grande Família", lançado em 1972, com o qual a classe média se identificava e ria dela própria.


Assim como um cometa visível da Terra, Paulo Pontes brilhou pela presença de sua atmosfera estendida e órbita excêntrica, passando muito rápido por esta vida, sumindo dos nossos olhos aos 36 anos de idade, em 27 de dezembro de 1976, deixando-nos na expectativa de tê-lo outra vez entre nós. Isto porém somente se faz possível pelo resgate de sua vida e obra e pelo justo reconhecimento público, quer seja por meio de honrarias póstumas ou por intermédio da criação de projetos de formação de novos talentos, orientados por sua filosofia revolucionária de fazer teatro, cujo fio condutor era a mensagem de esperança que ele deixava em todas as suas peças: é possível haver mudança, apesar de tudo.


 

Artigo publicado no jornal A União em 27 de Dezembro de 2023



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