Otávio Adelino de Lima, meu pai, nasceu em 16 de dezembro de 1923, no agreste paraibano, na Fazenda Campos, localizada no então distrito de Olivedos, município de Ibiapinópolis, que passou a denominar-se Soledade, em 17/09/1948. Treze anos depois, o distrito de Olivedos foi elevado à categoria de município.
Filho dos sertanejos Francisco Adelino Irmão e Alice Maria de Lima, seus irmãos mais velhos Otaviano, Hozana, Otacílio, Maria Alice e Julita nasceram também em Olivedos. Os mais novos, Oscar, Iracema e Iracy são campinenses. Somou-se à lista dos irmãos a filha de escravos Inês Maria da Conceição, falecida aos 104 anos, em 2023.
Otávio veio com a família para Campina Grande/PB, aos oito anos de idade, em 1931, para morar inicialmente no sítio Lagoa dos Canários, ali onde se situa o Complexo Esportivo Plínio Lemos, o antigo estádio municipal. Em Campina, fez o curso primário no tradicional Externato São Vicente, às margens do açude velho. Após anos sem estudar, Otávio concluiu o Curso Comercial Básico no Colégio Alfredo Dantas, aos 31 anos de idade. Na sequência, fez curso de Técnico em Contabilidade.
Em 31 de outubro de 1946 casou-se com Luzia de Oliveira e Silva, que desde então substituiu o sobrenome de Silva por Lima. Dessa união nasceram 12 filhos: eu, Iêda (1948), Iara (1949), Lúcio (1951), Ilma (1953), Leudo (1955), Levi (1956), Lucas (1958), Iris (1961), Laércio (1963), Lívio (1966), Leidson (1967) e Ilce (1968). Vinte anos depois, mais precisamente em 1987, a viúva Luzia adotou Kléber. No centenário de Otávio, 16/12/2023, a família é composta por 189 membros, sendo 13 filhos, 47 netos, 55 bisnetos e 03 trinetos, uma árvore que abriga frutos sanguíneos e afetivos.
Otávio foi marchante, na Feira de Campina Grande; foi prestamista; revendeu guloseimas, em um fiteiro, no centro da cidade; caçou e pescou todo final de semana, para assegurar a proteína da família; e foi administrador noturno, na Sede do Clube dos Caçadores. Até que, em 31/10/1955, Otávio tomou posse nos Correios, no cargo de carteiro. Nessa data, ele comemorava os nove anos de casamento com Luzia.
Paciente, rigoroso (até com ele) e introvertido, Otávio mais escutava que falava. Cordato, tinha hábitos e atividades de lazer que lembram algo dos holandeses, que ocuparam a Paraíba no Século XVII: disciplinado, pontual, exigia silêncio à mesa, por considerar o ato da refeição um ato sagrado, pelo trabalho que estava por trás; não era chegado a beijos e abraços, embora muito dedicado à família; definia regras claras que todos seguiam; caçava com cachorros de raça; respeitava as tradições.
Tendo falecido poucos dias depois de completar 59 anos de idade, no dia 10/01/1983, em sua homenagem três dos seus netos carregam seu nome. Seu apelido, Barra Branca, é uma síntese do que representou seu caráter, de eterno tempo bom.
Leitor de Júlio Verne, o precursor da ficção científica, o carteiro Otávio adorava embarcar nas viagens do autor de “A volta ao mundo em 180 dias”, apoiado em uma visão futurista, na sua aventura pelo sustento e educação de uma grande família, com um salário que perdia seu poder aquisitivo gradualmente. Ele conseguiu essa proeza!
Artigo publicado no jornal A União em 13 de Dezembro de 2023
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