Surpreendeu-me esta obra do confrade Josemir Camilo de Melo, historiador, escritor e presidente emérito da Academia de Letras de Campina Grande, por seu estilo irreverente, mescla de linguagem formal e oralidade nordestina, com uma trama de narrativa fragmentada. Orlando Furioso ou o carro que carregou Adão nos remete ao poeta renascentista italiano Ludovico Ariosto (1474-1533).
Com seu poema épico de cavalaria “Orlando Furioso”, lançado antes do descobrimento do Brasil, Ludovico inspirou Vivaldi, Händel e Cervantes.
Josemir Camilo lança mão de fios narrativos semelhantes, numa corajosa provocação do leitor com suas intrincadas conexões entre o fantástico e o real, onde atuam o menino Josa, o “curador dos mortos” Orlando Furioso e outros viventes da Rua das Laranjeiras, no município de Goiana/PE.
Amante da música clássica, o dono da funerária “Vai com Deus” sobrevive da morte; em contrapartida, regala alegria ao lugar com seu apoio às festas populares, como a troça Vai quem Quer, no carnaval; a fogueira gigante e luzes do São João e a Festa da Padroeira.
Josa, aprendiz de construtor de caixão de defunto e sapateiro, se encarrega de ligar os nós criados pelo autor, na intrincada rede de narrativas, carregadas de erudição sobre o melhor da música clássica.
Rica em trocadilhos e paródias, essa obra de Josemir Camilo também leva o leitor a boas risadas, como na firme negativa do Orlando em ceder um dos seus caixões para um enterro simbólico de Getúlio, que havia se matado: “Respeitem meus caixões, cambada!...”.
Minha reverência, meu mestre! O menino Josa que mora em você, desde muito cedo era encantado pelo mundo das palavras novas.
Comments