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  • Foto do escritorIêda Lima

Nego, luto, luta e João Pessoa

O vermelho de luta, o preto de luto e o NEGO da negativa de apoio a um candidato à Presidência da República, que configuram a bandeira da Paraíba, trazem em seu silêncio simbólico a marca de um período histórico profundamente conturbado da vida nacional e estadual, que teve em João Pessoa, então Presidente do estado, uma figura emblemática.


Paraibano de Umbuzeiro, terra de Epitácio Pessoa - Presidente da República, entre 1919 e 1922 - e de Assis Chateaubriand, o magnata das Comunicações no Brasil, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi o estopim da Revolução de 1930, que depôs o 13º Presidente da República, Washington Luís, impediu a posse do Presidente eleito, o paulista Júlio Prestes, e alçou o gaúcho Getúlio Vargas ao poder, por longos vinte anos.


João Pessoa, cuja data de nascimento completou 145 anos nesta terça, 24 de janeiro, foi extraído do convívio dos seus pais aos 11 anos de idade e criado pela tia paterna, que era casada com um militar do exército. Tendo passado primeiramente por Guarabira, depois pelos estados do Rio de Janeiro, Bahia e Pará, voltando para a Paraíba com 16 anos, sua formação incluiu a Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, o Liceu Paraibano, o 27º Batalhão de Infantaria e a Faculdade de Direito de Recife. Aos 27 anos casou-se com Maria Luisa, filha do desembargador e ex-governador de Pernambuco, Sigismundo Antônio Gonçalves.


Seguiu-se um período na capital federal, Rio de Janeiro, em que ele exerceu as funções de Auditor Geral da Marinha e ministro da Junta de Justiça Militar e do Supremo Tribunal Militar, sob os auspícios do seu tio, Epitácio Pessoa, então Presidente da República.


A atuação de João Pessoa como Presidente (hoje governador) da Paraíba, no período entre 1928 e 1930, foi marcada por conflituosa relação com seus opositores, em decorrência de uma gestão reformista, fiscal e administrativamente, e uma condução política que desagradou parte das oligarquias que se sentiram prejudicadas com as suas decisões.


Em 29 de julho de 1929, decide somar-se aos governadores de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, negando apoio ao candidato do seu partido, indicado pelo então Presidente Washington Luís com o apoio de outros dezessete governadores; e aderindo à Aliança Liberal, que lançou a chapa de oposição com Getúlio Vargas na cabeça e ele na vice. Derrotada, a Aliança Liberal iniciou uma campanha de mobilização para impedir a posse de Júlio Prestes.


A luta no âmbito estadual havia evoluído para um levante armado, sob o comando do Coronel José Pereira Lima, liderança no município de Princesa, que tinha forte influência na política estadual e contava com o apoio de João Duarte Dantas e João Suassuna. Este último, pai de Ariano Suassuna, fora governador na gestão anterior à de João Pessoa.


Acirrou-se a luta; foi ordenada a invasão, pela polícia do estado, de escritórios e residências de pessoas suspeitas de receptar armamentos destinados aos rebeldes. Numa dessas operações, foram encontradas cartas de amor trocadas entre João Dantas e a professora Anayde Beiriz, enriquecendo o material usado para difamação dos opositores, pela imprensa.

O desfecho dessa luta entre as oligarquias paraibanas foi o assassinato de João Pessoa, em Recife, no dia 26 de julho de 1930, pelo advogado João Dantas, fato que beneficiou e catalisou o movimento contra a posse do Presidente eleito, culminando com o golpe militar, que depôs Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder, em 03 de outubro de 1930.


Com o sucesso da Revolução de 1930, como ficou conhecido o golpe, deu-se início à caça às bruxas, com a prisão, seguida do assassinato de João Dantas e seu cunhado. Na sequência, Anayde Beiriz morreu envenenada e João Suassuna foi assassinado, no Rio de Janeiro. O coronel José Pereira de Lima viveu na clandestinidade até a anistia, em 1934. Júlio Prestes pediu exílio no consulado britânico, voltando também após a anistia.


O resultado dessa luta, que elevou João Pessoa à condição de mártir, marcou o fim da República Velha, a instalação da Ditadura Vargas e redefiniu o símbolo oficial da Paraíba.

 

Artigo publicado no jornal A União em 25 de janeiro de 2023



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