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Foto do escritorIêda Lima

Napoleão Laureano, um rio que nunca seca

Ao pesquisar sobre vida e obra do patrono da Cadeira nº 34, da Academia de Letras de Campina Grande (ALCG), na qual tomei posse em 03/03/2023, descobri que Paulo Pontes havia conquistado o seu direito de andar, aos sete anos de idade, graças a uma intervenção cirúrgica gratuita, feita por Dr. Napoleão Laureno, em 1948, para corrigir defeito congênito nos seus dois pés. Fui tomada pela vontade de conhecer esse médico. Não apenas o conheci como tive a certeza de que sua trajetória merecia compor o portfólio de personalidades paraibanas, cujas biografias tenho ousado resumir em poucas linhas.


Pertinaz, solidário, de elevada consciência humanitária e líder nato, Napoleão Rodrigues Laureano, paraibano da Vila de Natuba, antiga comarca de Umbuzeiro alçada a município em 1961, veio para a capital João Pessoa ainda criança, junto com seus pais, o Tenente Floriano Rodrigues Laureano e D. Theophila Bezerra da Silva - 2ª esposa, de ascendência holandesa, cansados que estavam dos constantes saques e pilhagens promovidos pelos cangaceiros na sua região de origem, por ser rota de passagem para Pernambuco.


Alfabetizado em Natuba com a professora Maria do Egito, Napoleão foi enviado pelos pais para estudar no Ginásio de Recife, em regime de internato, nos anos 1930, retornando à Paraíba para terminar seus estudos e concluir o ensino médio no Liceu Paraibano; voltou a Recife para cursar medicina na Universidade Federal de Pernambuco, formando-se em 1943.

Atuou como Clínico Geral e Cirurgião no seu consultório particular; Cirurgião do Hospital Santa Isabel, do Hospital São Cristóvão e do Pronto Socorro de João Pessoa - onde operou Paulo Pontes; Anatomopatologista do Serviço de Verificação de Óbitos de João Pessoa; e Chefe de Serviços Médicos das Usinas São João e Santa Helena, de João Pessoa. Nesse período, especializou-se em cirurgia do câncer e psicologia médica.


Napoleão Laureano foi casado com D. Marcina Sampaio de Melo Laureano; juntos decidiram adotar a filha Maria do Socorro Sampaio Laureano, nascida em Recife/PE, em 1946.


Tendo participado, quando estudante, do movimento de resistência à Ditadura Vargas, sua popularidade conquistada pelo exercício de uma medicina inclusiva estimulou-o a filiar-se à União Democrática Nacional (UDN), em 1945, e candidatar-se a vereador por João Pessoa, na primeira eleição após a volta da democracia no Brasil, ao término da II Guerra Mundial.


Eleito como o segundo mais votado, logo assumiu a Presidência da Câmara Municipal, tendo revelado em seu discurso de posse sua visão de mundo: Congratulo todos meus pares, representantes do povo pessoense, reunidos nesta Câmara Municipal para estabelecer a retomada da democracia em nossa cidade. Invocando aqui o compromisso assumido com o povo, pela luta que, a partir desse momento, empreendemos pela felicidade dos pobres, dos humildes e dos sofredores. Em 1951 ele foi reeleito. Mas o câncer o desviou dessa rota.


Convencido da inevitabilidade da morte e consciente das deficiências de políticas públicas e infraestrutura para o tratamento de câncer no Brasil, ele liderou uma campanha mobilizando e unindo os mais diferentes setores da sociedade civil, das três esferas de governo, incluindo o Presidente Vargas e sua esposa D. Marly, imprensa, escritores e funcionários públicos, para captar recursos a fim de construir o primeiro hospital do câncer na Paraíba, por meio da Fundação Nacional do Câncer, criada por ele em março de 1951.


O médico do povo faleceu em 31 de maio de 1951, dois meses após conceder uma entrevista ao diretor do Jornal A União, Juarez Batista, quando disse: “Estou entusiasmado. Foi a Paraíba que deu o primeiro grito.” Em 24 de fevereiro de 1962 foi inaugurado o hospital.


A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), designada Casa Napoleão Laureano desde 1963, promoveu em 2012 e 2022 sessões especiais para celebrar os 50 e 60 anos de fundação do Hospital do Câncer Napoleão Laureano, com a participação do Deputado Estadual Janduhy Carneiro, sobrinho de dois políticos que aderiram à luta daquele que fez da sua vida “um rio que nunca seca”, fazendo jus ao significado da palavra indígena Natuba, sua cidade natal.


 

Artigo publicado no jornal A União em 14 de Junho de 2023


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