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  • Foto do escritorIêda Lima

Mestra Dorziat – 100 anos


Neste 01 de junho de 2023, Josefa Dorziat Quirino Barbosa completaria 100 anos.


Josefa Dorziat

As primeiras apresentações que me foram feitas sobre a mestra Dorziat, quando pesquisava para desvendar os perfis dos patronos e últimos ocupantes de cadeiras declaradas vagas na Academia de Letras de Campina Grande, aguçaram-me especial curiosidade, levando-me a perguntar o que teria levado uma mulher que não fizera esforço algum para registrar sua trajetória, ou até escrever um livro, a compor a casa de Amaury Vasconcelos.


As respostas foram surgindo à medida que me aproximava de alguns remanescentes contemporâneos seus, abrindo-se de vez as cortinas, após o encontro com sua filha Ana.



Seguiram-se surpreendentes descobertas sobre aquela mulher que optara por uma maneira diferente de uso da palavra: destrinchar a morfologia e a sintaxe do seu idioma pátrio, criando métodos de simplificação do que para muitos seria intransponível.


Fez de sua profissão um sacerdócio do ensino eficaz da língua portuguesa. Seu corpo despediu-se deste mundo aos 94 anos; mas seu exemplo e seus conceitos, métodos e metodologia ficaram para serem sistematizados e publicados, em um ou mais livros e, assim, seguir fazendo o que mais amava: desvendar a beleza e estimular o uso de todo o potencial da nossa língua.


Os depoimentos de sua filha Ana Dorziat, dos professores José Mário da Silva Branco, Carlos Herriot e Goretti Ribeiro revelam como ela foi uma mulher forte, obstinada na sua missão de mãe e professora, humilde e rigorosa consigo mesma e com os resultados do seu trabalho.


Sabia equilibrar o rigor nas avaliações com afeto, construindo amizades com os alunos, que perduraram vida afora, mantidas por telefonemas ou cartões enviados em datas festivas.


Entendia que o rigor e a insistência no aprendizado, utilizando-se da repetição e da memorização, preparavam seus alunos para o mercado e para a vida.


Para alcançar seu objetivo, lançava mão de garatujas, modinhas, quadros e todo tipo de recursos didáticos que levassem seus discípulos ao entendimento e, consequentemente, à memorização das regras, quaisquer que fossem os níveis de aprendizado. Ia do fácil ao difícil, do concreto ao abstrato, do simples ao complexo, como disse a filha e pedagoga Ana Dorziat.


Entusiasta da presença do latim na língua portuguesa, como catedrática da Gramática Histórica, foi considerada "vestal da última flor do Lácio", espelhando-se em Olavo Bilac, no ensino de Teoria Literária.


Determinada em transmitir a beleza do nosso idioma e ampliar o seu correto uso, além da dedicação à família, não lhe sobrou tempo para sistematizar seu privilegiado conhecimento e sua exitosa didática. Mestra Dorziat só se realizava numa sala de aula, sujando-se de giz, com seus enigmas gramaticais, para serem prazerosamente decifrados, confessou sua filha Ana.


Aberta ao novo, seu rigor no uso correto dos vocábulos e da estrutura gramatical da linguagem falada e escrita permitia-lhe certa abertura, paciência e flexibilidade, quando se defrontava com argumentos convincentes de especialistas em linguística, com os quais colaborou.


Sua postura de mulher humilde dava lugar à profissional vaidosa, quando ouvia a confissão de pessoas ilustres que haviam aprendido Português com ela, "na base da regra, mas com muito amor"; e fazia brilhar seus olhos de orgulho, quando era reconhecida como bibliômana.


Estudar e atualizar-se sempre eram quase uma mania, que ela gostava de confessar, a cada início de período letivo, como que buscando amenizar o impacto de seus cabelos brancos.


Seu espírito jovial pedia mais tempo, no templo onde aqui morava; ainda tinha muito que aprender, evoluir, ensinar! Mas os desígnios de Deus eram outros, retirando-a do nosso convívio no dia 02 de março de 2018.


 

Artigo publicado no jornal A União em 31 de Maio de 2023



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