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  • Foto do escritorIêda Lima

Maria José Limeira em seu eterno voo

Resgatar a memória da ativista social, jornalista, escritora e poeta Maria José Limeira foi não apenas um desafio, pelas lacunas na sua trajetória de vida, mas uma aventura repleta de surpreendentes descobertas, enquanto buscava compreender a essência dos seus feitos.


Foto: Arquivo Jornal A União

Maria José nasceu em João Pessoa, em 31/08/1941, do casal José Augusto Ferreira e Ermira Limeira Ferreira, que lhe deram mais oito irmãos, dentre eles a que veio a ser historiadora e escritora Dôra Limeira. Embora tivesse passado pelos cursos regulares do Ensino Básico nos colégios de freiras Lourdinas e N.S.das Neves, em João Pessoa, Zezé Limeira, como era tratada entre amigos, decidiu se submeter a provas do Supletivo (EJA atual).


Enquanto cursava Filosofia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, como jovem idealista formada por princípios cristãos, participou do movimento CEPLAR, uma Campanha de Educação Popular (1960-64), inspirada no sistema Paulo Freire, que priorizava a formação de camponeses. Este ativismo lhe rendeu sua prisão, após o Golpe Militar de 64, tendo sido levada para o Quartel do 15RI. Ao ser liberada, decidiu fugir para o Sudeste do país, certamente para se proteger de nova investida da repressão.


Nesse período de autoexílio em São Paulo e depois Rio de Janeiro, Zezé Limeira teve a chance de interagir com ícones da cultura brasileira e portuguesa como o dramaturgo, escritor, roteirista e jornalista pernambucano Aguinaldo Silva; o poeta, diplomata, compositor e dramaturgo carioca Vinicius de Moraes; o piauiense de Parnaíba, romancista, ensaísta e jornalista Francisco de Assis Brasil; e o poeta e crítico literário português, Arnaldo Saraiva.


Fiel às suas raízes, Maria José retornou a João Pessoa na década de 1970. Ali, ela trabalhou no jornal “Correio da Paraíba”, primeiro como repórter e depois como editora, tendo sido a primeira mulher a assumir a redação de um grande jornal; no Jornal “A União”, como colaboradora permanente do “Correio das Artes”; e na Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, como assessora do Deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho (PSC), sendo depois integrada ao quadro de servidores daquela instituição. Ocupou também o cargo de secretária da Associação Paraibana de Imprensa (API) no mandato do jornalista Carlos Aranha.


Como defensora intransigente da Democracia, Maria José Limeira participou como editora no semanário “O Momento”, desde a sua criação, em 1974, que foi fundado e mantido, por 10 anos, pelo advogado, professor, político e jornalista Jório Machado, outro resistente ao autoritarismo. Os jornalistas Nonato Guedes e João Manoel de Carvalho compuseram a equipe. Em 1975, foi uma das fundadoras, na Paraíba, do Movimento Feminino Pela Anistia (MFPA-PB). Anos depois, trabalhou no Jornal “O Combate”, também criado por Jório Machado, em 1999, sediado no mesmo prédio onde funcionara o jornal “O Momento”.


Mãe de Ana Cristina, Pedro Luís e Ermira, Zezé Limeira é tida entre os amigos como uma pessoa que foi muito amiga, de muita luz, e uma mulher simples, inteligente e corajosa.


Ao lado de incontáveis artigos escritos para os jornais por onde passou, Zezé Limeira escreveu uma dezena de obras entre prosas, poemas e peças teatrais, destacando-se “Olho

no Vidro” (1975), “Às portas da cidade ameaçada” (1980), “Luva no grito” (1985) e a peça “Os Maloqueiros”, esta que mereceu menção honrosa, em concurso de âmbito nacional, em Belo Horizonte. Deixou ainda dois livros inéditos: Contos da Escuridão e Memórias.


Foi fundadora do Clube do Conto da Paraíba, criado por Antônio Mariano, tendo publicado a obra “Quatro Luas” (2002), em coautoria com as escritoras Maria Valéria Rezende, Mercedes Cavalcanti e Marília Arnaud. Maria José também navegou pela crítica e teoria literária, com desenvoltura. Como referências, seu comentário sobre o texto da escritora Belvedere Bruno, e a verdadeira aula sobre as diferenças entre Haikai, Tankas e Poetrix, ambos publicados no blogue “Recanto das Letras”, em 07/08/2007 e 21/01/2016, respectivamente.


Os poetas Antônio Mariano e Hildeberto Barbosa Filho consideram que o maior talento de Zezé Limeira se inscreveu na prosa de ficção, onde ela imprimiu uma abordagem inovadora. Porém, ela seguiu expressando-se pela poesia até perto de sua morte, que veio aos 70 anos de idade, em 09/07/2012. Dois meses antes, ela publicara seu último poema, “No alto da torre, Horizonte”, onde seu espírito revela que “Não dá para discernir tudo./A distância é longa./O conhecimento, parco.” e suplica “Ajudem-me a voar/Antes que o céu negreje.”


 

Artigo publicado no jornal A União em 23 de Agosto de 2023





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