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  • Foto do escritorIêda Lima

José Jackson, a palavra e a autonomia do espírito

Conhecer o filósofo, escritor e professor José Jackson Carneiro de Carvalho, após sua passagem para outra dimensão, em 23 de fevereiro de 2023, foi como se eu tivesse descoberto uma botija, não cheia de ouro em barras ou moedas, mas de uma sabedoria e profunda capacidade de pensar, de compreender a essência da espiritualidade humana.


Bisneto da índia Xandu, nasceu em Caiçara/Pb, em 28/11/1940, filho de Severino Cavalcanti de Carvalho, de Serraria/Pb e Maria Carneiro de Carvalho, de Caiçara/Pb, José Jackson cursou o primário no Grupo Escolar Prof. José Soares, em Caiçara. Já em João Pessoa, concluiu o Secundário e a Faculdade de Filosofia no Seminário Arquidiocesano da Paraíba. Na sequência, fez Bacharelado e Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma - Itália (1963-65). Ordenou-se sacerdote em 1965, ano em que passou a ser Professor de Antropologia Filosófica na antiga Faculdade de Filosofia (FAFI) da UFPB, sendo afastado em 1969, por ter sido considerado ameaça à Segurança Nacional pela então Ditadura Militar.


No início de 1970 decidiu continuar servindo a Deus dedicando-se a uma família que constituiu com a poetisa Célia Maria Costa de Carvalho, em 13/02/1970, de cuja união nasceram os filhos Rogério, Fábio e Maysa que lhes deram seis netos.


Aprovado em concurso público, na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 1970, foi Professor de Metodologia da Pesquisa na Faculdade de Educação; Diretor do Colégio de Aplicação da UFS; Chefe do Departamento de Ciências Educacionais; e Pró-Reitor de Pós-Graduação. Foi ainda chefe do Núcleo de Apoio Pedagógico da Secretaria de Educação.

Na busca crescente por aperfeiçoamento, concluiu Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1971); Mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (1975); Doutorado em Psicologia do Escolar na Universidade de São Paulo (1977); e Pós-doutorado na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris (1979/1980).


Reintegrado ao quadro docente à Universidade Federal da Paraíba, beneficiado pela Lei da Anistia, José Jackson foi Pró-Reitor de Graduação, Vice-Reitor e Reitor (1980-1988). Promoveu a 1ª eleição direta de uma Universidade, no Brasil, em escolha de lista sêxtupla, para nomeação de Reitor, tendo sido eleito pelos professores, funcionários e alunos. Foi ainda Secretário de Educação e Cultura do estado da Paraíba, no governo Wilson Braga.

Como Diretor-presidente do Instituto de Educação Superior da Paraíba (IESP), adquiriu e iniciou a construção do seu prédio próprio, instalado na BR-230, município de Cabedelo.

Publicou, dentre várias outras obras, os livros Estudos de Filosofia e Universidade em Debate, em 1988; A modernidade e os caminhos da razão, em 2006; Albert Camus – Tragédia do Absurdo, em 2010; e André Malraux – Entre o real e o fantástico, em 2011. O escritor José Mário da Silva Branco o considera um grande ensaísta da obra do filósofo Albert Camus.


José Jackson Carneiro de Carvalho tomou posse na Cadeira nº 11 da Academia Paraibana de Letras em 08 de julho de 1990, sendo saudado pelo acadêmico Manuel Batista de Medeiros, seu professor nas cadeiras de Português e Latim, no Seminário da Paraíba.


Fundador da Academia Paraibana de Filosofia, foi no campo da reflexão filosófica onde José Jackson imprimiu sua marca. Em seu discurso de posse na APL, esse grande pensador paraibano revelou os fundamentos da sua vida e obra, ao defender a autonomia da palavra humana: “A possibilidade de criação do novo pressupõe, como condição fundamental, a autonomia de espírito. Autonomia que somente existe quando não existe a verdade definitivamente estabelecida, a arte completamente acabada, a lei absolutamente imutável.”

Damião Ramos Cavalcanti, seu amigo e confrade na Academia Paraibana de Letras, em crônica dedicada a ele revelou que, mesmo calados, podia conversar com Jackson, pois “é no silêncio que se pondera o valor dos instantes e amadurece o que virá depois, a palavra”.


 

Artigo publicado no jornal A União em 19 de Abril de 2023



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