top of page
  • Foto do escritorIêda Lima

Jackson do Pandeiro, só Deus não duvidava, admirava


O caminho para o resgate da memória de Jackson do Pandeiro passa, necessariamente, por uma parada no templo construído pelo seu biógrafo, o jornalista e Presidente da Fundação Casa de José Américo, Fernando Antônio Moura de Lima. Não à toa, o título contém algo dele.

Registrado José Gomes da Silva Filho, o “Rei do Ritmo” nasceu no Engenho Tanques, Alagoa Grande/PB, em 31/08/1919, filho do oleiro José Gomes da Silva e de Flora Maria da Conceição. Durante a infância acompanhou a mãe - que adotara o nome artístico de Flora Mourão - nas apresentações de coco-de-roda, educando o ouvido e memorizando cada ginga e movimentos de Flora e parceiros, com o zabumba e o ganzá. Há fortes indícios de que sua família tinha vínculos com a comunidade quilombola Caiana dos Crioulos, distante 12 km de Alagoa Grande, onde ainda hoje se brinca e se diverte com o coco-de-roda e a ciranda.


Após o falecimento do seu pai, em 1932, aos 11 anos de idade Zé Gomes migrou para Campina Grande, junto com a mãe e mais dois irmãos, Severina (Briba) e Geraldo (Tinda). O caçula Cícero é campinense. Foi engraxate, feirante, entregador de pão e animador do pastoril do bairro Zé Pinheiro, onde morou. Aos 15 anos agarrou-se ao destino tocando nos forrós da cidade, sob a batuta de Josefa Tributino, sua madrinha artística. Durante o dia, fazia serviços extras como pintor, varredor de ruas e telhadista, para complementar a renda familiar.


Aos 20 anos, começou a fazer sucesso com apresentações na pensão de Carminha Vilar, no Clube Ypiranga e no Cassino Eldorado, chegando a integrar a orquestra exclusiva deste cabaré, tocando zabumba e depois pandeiro, em parceria com o amigo José Lacerda. O sucesso foi tal que o pandeirista passou a adotar o nome artístico Jack do Pandeiro. Em 1945, aos 26 anos de idade, deixou a cidade dos menestréis rumo a João Pessoa.


Na capital, seguiu tocando em boates e cabarés, até ser contratado pela Rádio Tabajara, para compor sua Orquestra, sob a regência do maestro Manoel Alves de Oliveira, Nôzinho. Ali conheceu Rosil Cavancanti, seu negativo, como diz José Nêumanne Pinto.


Quando o maestro Nôzinho foi contratado para a Rádio Jornal do Commercio, de Recife, em 1948, levou consigo Jack do Pandeiro, aos 29 anos de idade. O Jack virou Jackson, do Pandeiro. A princípio foi ritmista, integrou a Orquestra Paraguay, ao lado de Luperce Miranda e Sivuca, sob a regência do maestro Clóvis Pereira, que foi responsável por alguns arranjos de músicas gravadas por Jackson, no auditório da Rádio Jornal do Commercio.


Genival Macedo, representante da Copacabana Discos em Recife, indicou o Rei do Ritmo como “bola da vez”, o que foi reforçado por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Jackson resistiu, mas acabou cedendo. Era o ano de 1954, quando ele chegou ao Rio, de navio, junto com sua primeira parceira, Almira Castilho de Albuquerque (Olinda/PE, 24/08/1924 – Recife/PE, 26/02/2011), com a qual esteve casado até 1967. Almira foi compositora, cantora, dançarina, produtora, empresária e parceira dele, em composições e apresentações no rádio, televisão e no cinema; passou os últimos anos da sua vida em Recife, assistida pela sua irmã.


Juntos, fizeram um rosário de sucesso, passando pela Rádio Nacional, no programa César de Alencar; depois, na TV Excelsior, no início da década de 60; e na TV Tupi, no programa Forró de Jackson, conduzido pelo próprio Jackson do Pandeiro. Para Fernando Moura, eles “eram mesmo infernais... dominaram o cenário musical da época, levando toda a carga rítmica, cênica e coreográfica amealhada em palcos, circos, feiras e tablados nordestinos”.


Em 1967, já em processo de separação de Almira, Jackson conheceu Neuza Flores dos Anjos (Itororó/BA, 11/08/1942 - ...) que foi sua parceira, na vida e no palco, até o último dia da vida dele, em 10 de julho de 1982. Neuza reside em Serraria/PB, na companhia de outro Zé.


Com a chegada da Jovem Guarda, do twist e do chá-chá-chá, Jackson foi jogado ao ostracismo. Inquebrantável, formou o Conjunto Borborema, com dois irmãos e um cunhado, que se integrou a uma caravana comandada pelo sanfoneiro Abdias, diretor artístico da CBS. Vez em quando fazia o trabalho de percussionista na produção de discos de outros artistas.


Até que, a partir de 1970, grandes nomes da música popular brasileira regravaram suas músicas, em reconhecimento ao que para muitos deles foi um mestre na divisão e no ritmo. Dentre as homenagens pelo seu centenário ressalto a edição especial do Correio das Artes/Jornal A União, e a criação do cordel Jack: Som do Pandeiro, do maestro campinense Roniere Leite Soares, que conta com uma partitura base para o texto, também de sua autoria.


Jackson faleceu pouco antes de realizar seu sonho de se apresentar no exterior – tinha um show agendado em Roma, na Itália – deixando mais de 400 músicas gravadas. Os restos mortais do Rei do Ritmo se encontram no Memorial Jackson do Pandeiro, em Alagoa Grande.


“O gênio que mixava ao vivo”, segundo Biliu de Campina, rompeu paradigmas e fronteiras, com sua simplicidade altiva e inimitável rítmica, fazendo milagres com as mãos e a garganta, que só Deus não duvidava, admirava, parafraseando seu biógrafo Fernando Moura.


 

Artigo publicado no jornal A União em 12 de Julho de 2023





65 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page