Historiador, jornalista, biógrafo, dicionarista, ensaísta e bibliógrafo, Horácio de Almeida, irmão de Elpídio de Almeida e primo de José Américo de Almeida, nasceu em Areia/PB, em 21/10/1896. Filho de Rufino Augusto de Almeida e Adelaide Jocunda de Almeida marcou sua trajetória com seu perfil polêmico, questionador e dotado de uma grande curiosidade intelectual e amor pela sua terra, destacando-se pela contribuição à historiografia paraibana.
Tendo iniciado a formação primária em Areia, aos 6 anos de idade, Horácio relatou em suas memórias que somente aos 25 anos conseguiu concluir o ensino básico, após liquidar em dois anos (1921) oito cursos preparatórios, no Liceu Paraibano, capital do estado. Em 1930, formou-se pela Faculdade de Direito de Recife, retornando em seguida para Areia.
No ano seguinte, Horácio migrou para a capital Parahyba, com a esposa Corintha e os seis filhos Átila, Armênia, Libânia, Luiz, Carlos Eduardo e Ignez, onde militou como advogado entre 1931 e 1946. Doris, nasceu já na capital. Nesse período, Horácio foi diretor do Jornal Estado da Paraíba e juiz eleitoral, representando a classe dos advogados.
Foi também Secretário do Interior, Justiça e Segurança Pública da Paraíba, no governo de Odon Bezerra, época da transição da Ditadura Vargas, que incluiu a formação da Constituinte de 1946 para a redemocratização. Ele era então vinculado ao PSD e seu primo José Américo à UDN. Em entrevista ao jornalista e crítico literário Edilberto Coutinho, em 1982, Horácio confessou a acirrada disputa pessoal e política entre ele e seu “poderoso” primo, o que teria sido o motivo que o fez migrar com a família para o Rio de Janeiro, em 1946.
No Rio, ele intensificou sua produção, como escritor e pesquisador da história da Paraíba. Dentre as suas mais de vinte obras publicadas, além dos inúmeros artigos em jornais, Horácio tratou de temas jurídico, ensaístico, biográfico, historiográfico, bibliográfico, autobiográfico e memorialístico. Apaixonado pela Paraíba e pelos livros, ele é considerado um dos mais importantes historiadores do estado, segundo o historiador Bruno Gaudêncio.
Possuidor de um raro acervo bibliográfico e documental sobre o Estado da Paraíba, Horácio de Almeida notabilizou-se também pelo seu ativismo junto às instituições literárias e memorialísticas do Brasil. Foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em 1936, e um dos fundadores da Academia Paraibana de Letras (APL), em 1941. Foi também membro da Academia Brasileira de Literatura; da Academia Carioca de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia; da Sociedade de Homens e Poetas do Brasil; da Academia Fluminense de Letras e da Federação das Academias de Letras do Brasil.
Frequentador do Sabadoyle, reuniões literárias promovidas por Plínio Doyle, no Rio de Janeiro, onde conheceu e travou amizade com Carlos Drummond de Andrade, Horácio ainda presidiu o Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes e o Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro.
Jornalista polêmico que foi, travou diversas batalhas intelectuais sobre os mais variados temas relativos à política e à religião, em jornais paraibanos. Uma delas está registrada em carta dirigida ao jornalista Carlos Romero, já em 1984, pelo Pe. Hildon Bandeira, personagem com quem Horácio protagonizou um acirrado debate público sobre espiritismo versus catolicismo, cada qual em um jornal. Na missiva, o padre revela a reação de Horácio, quando ele suspendeu “aquela guerra”, por ordem do arcebispo D. Moisés Coelho. Horácio teria publicado: “O padre correu; não aguentou o fogo cerrado dos meus argumentos”.
Altivo, ele ousou escrever na apresentação da sua História da Paraíba, Tomo I, 1966, que “a Paraíba tem muitos historiadores, mas não ainda a sua história”.
Horácio de Almeida faleceu aos 86 anos, no Rio de Janeiro, em 05 de junho de 1983, inconformado com a mudança do nome da capital de Parahyba para João Pessoa. Cinco anos antes de se encantar, quando do lançamento da edição ampliada da sua obra “História da Paraíba, Tomos I e II”, ele deixara o seguinte recado: “Apurar a verdade é dever da História e sem crítica histórica não é possível separar a verdade da mentira”.
Artigo publicado no jornal A União em 18 de Outubro de 2023
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