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Foto do escritorIêda Lima

Félix Araújo, a verdade que mata é a mesma que ressuscita



Foto: Livro Centenário FÉLIX ARAÚJO pag. 37

Precoce, intenso e visionário, Félix já teria cumprido sua missão na terra, se tivesse tombado na luta contra Mussolini, Hitler e seus fanáticos seguidores, como o “Soldado 6362” da Força Expedicionária Brasileira, na II Guerra Mundial. Teria deixado sua obra lírica Tamar, poema em prosa, escrito em 1940; e várias crônicas, escritas desde os dezesseis anos de idade, proeza que teria despertado a atenção do escritor Alceu de Amoroso Lima, pela sua erudição.


Félix foi um “cronicário portador de largo alcance estético, (onde) o recorte telúrico, a afetividade do código das relações interpessoais e a ênfase posta na solidariedade também poderiam ser objeto do nosso olhar reflexivo”, na visão do escritor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura, da UFCG, José Mário da Silva Branco, em artigo publicado na Revista n° 52 da Academia Brasileira de Letras, em 2007. Nessa jóia rara do ensaismo brasileiro, José Mário disseca as obras Maria Preta, Maria Pura; A Cajazeira da Minha Terra; Retrato da Vida; Deixemos a Luz em Paz; Noite de São João; e Salvemos a Democracia. Nesta última, ele realçou “o lema da liberdade política sem as peias das doutrinações unidimensionais”. Com sua lupa e abertura para transgredir regras, professor José Mário passou também por Tamar, Dor, Fraternidade e Folhas Soltas, concluindo que a poética de Felix de Souza Araújo “é uma novidade que permanece novidade”, citando Ezra Pound.


Partindo desse conciso resgate das obras de Félix Araújo, ao girar o caleidoscópio vê-se que, à semelhança da explosão de vida de uma “Dama da Noite”, a alma dele expandia-se para outras artes como a de fazer política; usar o dom da oratória para magnetizar as pessoas, levando-as a refletir como ser social feito para cumprir sua missão terrena, com autonomia e liberdade; ser livreiro, abrindo as portas do mundo dos livros para as pessoas, trazendo a luz dos diversos gêneros literários para os distintos gostos de leitura; comunicar-se com maestria, lançando mão de jornais e programas de rádio; e compor hinos para campanhas eleitorais.


Aluno exemplar, do ensino básico ao superior, cursou o primário na Escola Pública Estadual de Cabaceiras; deu os primeiros passos como orador na solenidade de conclusão do ginásio, no Colégio Diocesano Pio XI; e conquistou destaque “em quadros da Faculdade de Direito de Recife, pela qualidade intelectual e pelo conhecimento das matérias jurídicas nela contidas”, como disse seu irmão, Mário de Souza Araújo, em seu discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano, em 08 de dezembro de 2006, em São João do Cariri.

O historiador Josué Sylvestre escreveu em sua coluna A Parte, Jornal da Paraíba, 02 de julho de 1993, que nunca tinha visto alguém falar tão bem quanto Felix Araújo.

Como político, há uma profusão de textos descritivos e analíticos que tratam da sua meteórica trajetória. Merecem destaque a sua liderança como coordenador das campanhas eleitorais do prefeito Elpídio de Almeida (1947) - vindo a ser seu Secretário de Educação - e do governador José Américo de Almeida (1950); e sua firme e inegociável postura, como vereador mais votado de Campina Grande, entre 1951 e 1953. Suas denúncias de corrupção na administração do prefeito Plínio Lemos, após ter rompido com o governador que ele ajudara a eleger, custou-lhe a vida, em traiçoeiro crime político, cometido em 13 de julho de 1953. O soldado 6362 viera cair numa guerra política, em 27 de julho de 1953, a cinco meses de completar 31 anos de idade, em 22 de dezembro. Uma guerra com as armas da oratória, da perspicácia, da dissimulação e da vigilância permanente, motivada pelos embates ideológicos e diferenças de postura frente à ética, à liberdade e à verdade. Félix também sabia que “A verdade que mata é a mesma que ressuscita”. Aí está ele! Ressuscitando, sempre, pelas mãos de historiadores, ensaístas, romancistas, cordelistas, poetas e cronistas, pelo Brasil afora.

 

Artigo publicado no jornal A União em 28 de Dezembro de 2022


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