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  • Foto do escritorIêda Lima

A Arte dos Encontros

Artigo de Vitória Lima, publicado no jornal A União, nesta quarta-feira, 16 de abril de 2024, fala do meu livro Um Olhar no Retrovisor e Outro na Estrada. Escritora, cronista e poeta paraibana de Campina Grande, radicada em João Pessoa, Vitória me deu mais um presente, esta semana. O primeiro, veio da premiada escritora Marília Arnaud (O Pássaro Secreto, Liturgia do Fim, O Livro dos Afetos...), que publicou uma belíssima resenha do meu livro no seu Facebook.


Capa do livro "Um Olhar"

Essa é a primeira obra da minha ousada decisão de enveredar pelo mundo da literatura, como projeto de aposentadoria. Lançado em 2018, seis anos depois este livro ainda conquista leitores.

São depoimentos dessa natureza que me fazem seguir firme para a conclusão do meu terceiro livro, o qual espero lançá-lo no segundo semestre deste ano.

O segundo, “Ruído do Silêncio”, fala de uma mulher que, tendo guardado segredo, por anos a fio, sobre um abuso sexual que sofrera aos cinco anos de idade, só conseguiu se libertar do profundo ruído que seu silêncio havia provocado na sua vida afetiva, quando decide falar.


A seguir, o belo artigo de Vitória Lima, cujo texto original ela gentilmente me cedeu:


A ARTE DOS ENCONTROS

Vitória Lima

“A vida é a arte do encontro/ embora haja tantos desencontros pela vida” - Vinicius de Moraes

            A vida nos prepara surpresas que nos deixam com as emoções todas misturadas. Não sabemos se devemos rir ou se devemos chorar. Rir e chorar é o que terminamos por fazer. As emoções são muitas e ao chegarem de chofre, nos pegando de surpresa, buscando ligações nas memórias mais remotas, nas lembranças mais longínquas...


            Foi isso que me aconteceu neste mês de abril de 2024, quando me chegou pelos Correios, o livro de Iêda Lima, “Um olhar no Retrovisor e outro na Estrada, uma história de resiliência...”. Deixe-me situá-los, (para quem não conhece a autora). Iêda Lima é paraibana, de Campina Grande e embora sejamos contemporâneas, tenhamos vivido na mesma cidade, estudado no mesmo colégio (o Estadual da Prata, em Campina Grande), nossos caminhos só se cruzaram agora. Foram trajetórias muito diferentes, embora com muitos pontos em comum. E este presente chegou em dose dupla, pois Iêda enviou um segundo livro para que o repassasse para alguém que achasse que o mereceria. E escolhi a amiga Niná Marques, outra contemporânea de Campina Grande, que eu sabia que o apreciaria. E assim o fiz: convidei Niná para almoçar em minha casa e repassei-lhe o livro de Iêda.


            Iêda escolheu o caminho da militância política e isso a fez vítima, juntamente com seu companheiro, de perseguições, que culminaram em prisão e no exílio, primeiro no Chile, depois na Alemanha Oriental. Foram anos difíceis, de muito medo, fugas e aprendizado. Também foram anos muito ricos, de convivência com pessoas marcantes na sua vida, como é o caso do Betinho, “o irmão do Henfil”, que a ajudou em momentos cruciais de sua vida. Essa experiência no Chile me levou diretamente para minhas memórias pessoais, pois eu estava estudando nos Estados Unidos quando houve o golpe que culminou na morte violenta do presidente Salvador Allende, no Chile. Na ocasião, eu e meus amigos latino americanos, estranhamos muito a pouca divulgação que foi dada, nos meios jornalísticos norte-americanos, ao golpe que fora perpetrado no Chile. Depois entendemos o porquê. Anos depois, escrevi um poema, “11 de setembro”, que foi publicado no meu livro “Fúcsia”, pela Editora Linha D´Água, em 2007, que reproduzo aqui:

11 DE SETEMBRO

Para Lu e Luzilá

não, não falarei

das torres gêmeas

que caíram

no chão – naquele

11 de setembro

paralelismos à parte

falarei de um outro

11 de setembro

mais longínquo

&obscuro

Não,

não foi em nova iorque,

(vitrine do mundo)

nem foi no pentágono

que caiu por terra

com menos alarde

(mas não menos dor)

um salvador:

bombardeado,

encurralado

no palácio la moneda,

em santiago do chile.

com Allende

ruíram as esperanças

de todo um continente

ao sul

do equador

eles – lá no pacífico,

nós – cá no atlântico,

paralelas esperanças

que rolaram por terra

naquele 11 de setembro

de mil novecentos &

setenta & três.

            O livro de Iêda, com suas idas e vindas, entre Campina, Recife, Curitiba, Fortaleza, Santiago do Chile e Alemanha Oriental, me fez viajar no tempo, sofrer com ela as agruras das fugas e separações, dos medos e alegrias com as chegadas dos filhos e as partilhas com amigos, vizinhos, familiares e pessoas queridas. Um livro como este é um bem precioso que nos aviva a memória e nos faz lembrar de tudo que não devemos esquecer.


 

Artigo publicado no jornal A União em 17 de abril de 2024













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